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De Bridget Jones à Realidade: O TDAH Feminino sem Roteiro

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Quando ouvimos a sigla TDAH, o inconsciente coletivo quase imediatamente nos entrega uma imagem pronta: o menino agitado que interrompe a aula e não para na cadeira.


No entanto, por trás desse estereótipo barulhento, existe uma narrativa silenciosa.


Existe uma realidade complexa vivida por meninas e mulheres que, por não caberem na moldura clássica da hiperatividade física, permanecem invisíveis. Crescemos ouvindo que somos apenas "sonhadoras", "distraídas" ou, pior, que "não nos esforçamos o suficiente"..


O objetivo desta nossa conversa hoje não é apenas listar sintomas, mas desvendar essa experiência.


Vamos olhar para como a mídia — ora romantizando nossos traços como "peculiaridades encantadoras", ora ignorando nossa dor — moldou a forma como nos vemos. E, o mais importante: como podemos retomar a autoria da nossa própria história, tornando-nos Arquitetas do Futuro


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Desvendando a Experiência Interna: Quando o Caos é Invisível


Clinicamente, o TDAH é uma condição do neurodesenvolvimento. Mas, para nós, mulheres, acredito que a biografia molda a biologia de forma única


Enquanto o menino externaliza o caos correndo pela sala, a mulher frequentemente internaliza o caos.


A hiperatividade, para muitas de nós, não está nas pernas, mas na mente. É um fluxo incessante de pensamentos, uma rádio interna que nunca desliga. Somos rotuladas como "sonhadoras" porque nossa serenidade externa esconde uma psiquê que trabalha em velocidade máxima, mas que luta para ancorar no "aqui e agora".


Observe como a tradução da experiência muda quando olhamos através da lente feminina:


Onde o estereótipo clássico busca por hiperatividade física (correr, subir em coisas), a realidade feminina apresenta uma hiperatividade mental. É uma mente inquieta, ansiosa e exausta pelo excesso de pensamento. Uma verdadeira "tapeçaria" de ideias que se entrelaçam sem fim, gerando um ruído interno constante que ninguém vê, mas que você sente.


Enquanto meninos são diagnosticados pelo comportamento disruptivo, meninas muitas vezes sofrem com a desatenção internalizada. É aquela tendência a "sonhar acordada", perder-se em devaneios no meio de uma conversa e parecer distante. Muitas vezes, esse "mundo da lua" não é desinteresse, mas um refúgio psíquico para lidar com o tédio ou a sobrecarga.


Por fim, o que se vê como impulsividade motora no padrão clássico, em nós se manifesta como hiperatividade verbal e emocional. Isso aparece na necessidade de falar excessivamente por puro entusiasmo, interrompendo os outros sem querer, e em sentir emoções com uma intensidade avassaladora — um fenômeno doloroso conhecido como Disforia Sensível à Rejeição.


Essa discrepância entre a calma da superfície e a tempestade do fundo é o terreno fértil para o subdiagnóstico.


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 A "Menina Boazinha" e o Custo do Mascaramento


Por que tantas de nós só recebem o mapa para o seu funcionamento — o diagnóstico — tardiamente, já na vida adulta?

A resposta passa por barreiras sociais profundas. A sociedade espera que a menina seja a "zeladora da harmonia": organizada, atenta, calma e caprichosa. Quando falhamos nesse papel, não recebemos apoio clínico; recebemos julgamento moral.

Para sobreviver a esse julgamento, aprendemos a fazer o Masking (Mascaramento).

Construímos uma estrutura para o mundo, escondendo nossas dificuldades de organização e nossos esquecimentos. Mas o preço desse teatro é a exaustão da nossa energia vital.


Viver sem respostas gera um acúmulo de sofrimento psíquico:


  • A Voz da Autocrítica: Internalizamos que somos "preguiçosas" ou "falhas", corroendo nossa autoestima.

  • Os Ecos do Não Tratamento: Frequentemente, tratamos a ansiedade e a depressão por anos, sem perceber que elas são apenas a ponta do iceberg — comorbidades que mascaram a raiz neurodivergente.

  • A Sensação de Não Pertencimento: Aquele sentimento crônico de ser "estranha no ninho", de estar sempre tentando decifrar um código social que todos parecem saber, menos você.



O Espelho Distorcido: De Bridget Jones à Realidade


Se a sociedade não nos vê, onde buscamos espelhos? Infelizmente, a cultura pop muitas vezes nos oferece reflexos distorcidos.


Vemos personagens como a Bridget Jones ou a Rachel Green, com suas vidas caóticas, impulsividade e esquecimentos, sendo retratadas como "charmosas". O cinema fetichiza nossos traços neurodivergentes — a impulsividade, a intensidade, o pensamento não linear — removendo toda a dor, a desregulação e a ansiedade que vêm no pacote.


Na ficção, o esquecimento é uma peculiaridade fofa que termina em um encontro romântico. Na vida real, o esquecimento gera dívidas, perda de prazos e vergonha.


Nós não somos acessórios cômicos. Somos sujeitos complexos.


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O Poder da Identificação Real


Por outro lado, quando a representação toca a verdade, o efeito é curativo. É por isso que tantas de nós nos emocionamos ao assistir Anne with an E.


Anne não é apenas "criativa"; ela é intensamente desregulada, fala freneticamente, sente a rejeição como uma dor física e usa a imaginação para sobreviver a traumas. Ao vermos Anne, não vemos apenas entretenimento. Vemos validação. Vemos alguém cuja estrutura única é finalmente reconhecida.



Um Convite à Integração


Receber o diagnóstico tardio não é receber um rótulo limitante; é como receber uma bússola.


É a validação de que a sua luta era real. É o alívio de finalmente entender que você não estava "quebrada", apenas navegando com um mapa de uma cidade diferente.


O TDAH não define quem você é, mas entender como ele molda sua percepção é o primeiro passo para deixar de lutar contra si mesma. Não buscamos "consertar" nossa essência, mas sim a integração das nossas partes fragmentadas.


Se você cansou de tentar caber em roteiros que não foram escritos para você, convido você a começar a escrever o seu próprio.


Eu criei a Imersão Online: TDAH e o Ser Multidimensional para ser esse espaço de acolhimento e estratégia. Um lugar onde mergulhamos fundo, sem romantizar a dor, mas também sem patologizar a sua potência.


Vamos recalibrar essa bússola?




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